Hei-de saber-me sereno quando vier o tempo, quando chegarem as horas pela porta da rua, quando os dias se tornarem séculos e a vida for apenas um momento. Hei-de saber-me só, quando a alma estiver vazia, quando o espaço estiver pleno de ar e a luz seja apenas a das estrelas do firmamento. O meu silêncio não agitará a atmosfera, os meus sentidos serão pálidos como letras sumidas em papeis envelhecidos. Quando esse instante chegar já não estarei aqui, restará apenas um corpo oco, porque a alma fugiu, seguiu em direcção ao infinito, há floresta dos encantos onde não há prantos nem gemidos, só pássaros chilreantes e frondosas árvores verdejantes. Não haverá lamurias, nem falsas figuras anunciando o lamento de quem perdeu a vida num breu, apenas e tão só, este copo vazio, de onde se evaporaram as memórias, e os livros escritos, espalhados pelo chão frio da vida.



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