A
sensação de sentir o ar percorrer-nos o corpo através do vazio é
ilusão de voo de pássaro sobre o abismo. Este arrepio que nos
impele a resistir à tentação do salto do promontório da vida,
descendo em círculos sobre a oca realidade, mantém-nos amarrados a
convicções estabelecidas, de que o lugar mais seguro para a
existência é rente ao chão, e não na contradição da gravidade.
Para subverter a regra, inventámos o sonho, numa dimensão paralela,
onde nos permitimos aquilo que os convencionalismos nos vedam. É
ténue a película que separa ambos mundos, voar entre eles é a
conjugação de sensações e emoções que abrem o portal e permitem
o fluir das energias. Uma aparente aleatoriedade leva-nos aos mais
estranhos lugares, alguns quase ilusórios, outros tão reais que
parecem perfeitas cópias do espaço-tempo já vivido e agora
revisitado. Mas o espírito não se baseia no acaso para nos
transportar, estes cenários surgem das memórias incrustadas na
linha que já percorremos desde a nossa primeira origem, muito atrás,
onde se formaram os primeiro elos desta corrente. Voamos pois, entre
diferentes tempos, saltando de realidade em realidade, como se os
corpos encarnados esperassem por nós em cada uma destas esferas. A
mente é um universo imenso do qual apenas conhecemos uma ínfima
parte, todo o resto é território da imaginação, dos sonhos e da
criação, Olimpo, calvário e purgatório.
Sem comentários:
Enviar um comentário