Não
sei como explicar-me a mim mesmo sobre esta divergência constante
entre o mover dos relógios que avançam a ritmos mecânicos, e o
evoluir da vida molecular que se propaga numa reprodução constante
de células. Algo me escapa, falta uma ligação que conecte os
cronómetros ao respirar, ao bater dos corações, e estes, por sua
vez, aos sentidos, aquilo que ninguém vê mas sabe que o habita por
dentro. Será este tic-tac uma progressão mais o menos constante da
evolução espiritual do nosso Eu energético? Será este fluxo de
dados que corre nas torrentes sanguíneas dos seres vivos apenas uma
bomba relógio prestes a explodir num qualquer trombo, arritmia ou
derrame? Ou, por outro lado, somos a face finita duma etapa que
devemos explorar e interiorizar, não nos átomos mas nos fluxos de
partículas subatómicas que compõem a nossa alma infinita?
Esta
pequena centelha da criação, que todos carregamos dentro, esta
vontade de ser mais, ir mais além, descobrir, perceber e entender é
o reflexo da infinitude da nossa existência, é a prova de que
afinal não somos apenas um hiato, mas todo o tempo, não somos o
momento, mas o eterno instante da descoberta dum novo limiar
ultrapassável.
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