É inacreditável como as palavras me chamam, às vezes gritam-me de longe, outras, atravessam-se na calçada a meus pés. Quero evitá-las, mas parece fado, destino já traçado que até na música me dancem. Nem sempre sei como pegar-lhes, se as tomo pela cintura e as cinjo ao meu corpo, ou se as levante e segure ao colo como quem atravessa donzelas no riacho. Questiono-me sobre esta invulgar relação que temos, este amor premente que nos prende, que faz com que as queira tanto, que elas me persigam por cada canto. Parece quase um jogo onde me escondo, mas onde sempre me encontro. Esta inevitabilidade faz com que tenhamos uma intimidade profunda, que até o próprio ar que nos envolve nos trai e nos denuncia nesta promiscuidade de prazer que ousamos entre ambos viver. Já nada sou sem a palavra, e tantas vezes me atrevo a acreditar que sou apenas e só ela mesma, vestida de luxúria, ou sentimento, de lágrima escorrendo pelo rosto feito de letras. Um dia, quando nos separarmos, e meu corpo seja cinza, ela ficará guardada na essência da minha vida, no momento dramático da minha morte e na eternidade da minha alma.


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