Na vertigem do abismo, a sensação de tontura é tão aliciante como o medo da queda em altura. O corpo balança, como se tentasse agarrar-se ao chão, mas este se movesse noutra direcção. É assim que me sinto quando me assomo à aresta viva do teu mundo. Apetece-me cair, mas tenho medo, e tudo faço para resistir. Depois vejo a água, rio alvoreado que do alto desta cascata se atira sobre o vazio sem medo de deixar de ser rio. Vejo a floresta, que em braços me aperta, espera-me num tapete verdejante, qual corpo desnudo de amante. Este frio húmido, gela-me os sentidos, deixa-me completamente rígido, não sei se por horror da queda, se por mera frigidez do espírito.
Mas em que consiste este voo, será um mero suicídio? Ou uma forma de aprender a voar? De saber cair contra o ar, vestir o véu de gotas d'água e mergulhar em baixo no rio, onde termina esta cascata! Quero ver, por dentro o teu mundo, descobrir nessa gruta o fruto que sagrado guardas em teu âmago, só assim saberei que saltar não significa parar, mas seguir em frente, na corrente deste caudal que é o teu corpo no meu a soçobrar. 


 

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