Faz-se
um silêncio profundo, que paira sobre o meu mundo, calo a voz na
intersecção dos momentos que me servem de alimento. Neste vazio,
onde o éter me contorna o corpo como um rio, adormeço, mergulhado
nesta atmosfera líquida onde os primórdios do tempo se propagam em
breves cantos no meio do tormento. Sinto um arrepio percorrer-me todo
o corpo, como se uma energia nova viesse do fundo do meu oceano e me
trespassasse a alma inerte, misturando todos os meus sentidos,
apagando todos os meus registos. Quero começar do zero, do alicerce,
escavando na rocha firme, perene, cimentando todos os poros, alisando
todas as superfícies para que as letras escorram como gotas soltas da
chuva dos dias, quero libertar de novo as fragrâncias que geram
alegrias, que plantam na floresta as suas sinergias, só assim fará
sentido erguer de novo o mundo, como uma gigante bola coloria.
As
minhas letras nunca escrevem um adeus, porque não sei conjugar a
partida, porque sempre tenho ânsia na chegada, mas quero em mim
sentir a saudade, a vontade de acordar de manhã e poder deliciar-me
degustando todo o alfabeto só para te fazer sorrir, chorar, gritar e
sentir, no arrepio da pele cada detalhe que de ti faço emergir. Por
isso agora me calo, me fecho e me guardo, para descansar de mim
próprio, do meu jeito meio torpe de ser, de sentir e de sofrer.
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