Escrevo, hoje, pedaços da história de outrora. Não sou escritor, não almejo a glória, apenas escrevo para dizer, tudo o que guardo na memória. Apenas procuro arar a terra, esta folha onde semeio, com palavras de vento, com saudades dum tempo que não volta mais. Neste recanto de silêncios, onde sento o corpo, aqueço os dedos, e descrevo, preenchendo vazios, retirando as recordações do estio, guardando aqui aquilo que já não digo.
Cada vez digo menos, porque vejo que a palavra falada é quase sempre mal interpretada, distorcida, enganada por concepções já feitas, prontas a consumir, como tudo aquilo que agora ousamos deglutir.  Há quem diga que a solidão é para os que pretendem ser deuses, eu diria que a solidão é para os que não querem nada mais que ser apenas aquilo que são, apenas mortais, apenas pessoas que não se revêem nos demais.
Que saudades dos tempos em que o frio não era apenas a ausência de calor, mas um intervalo entre estações, o fim do ciclo, quase que à espera de renovações. Há um caminho que devemos seguir, e, como um livro, não faz sentido ler o princípio e o fim sem passar pelo meio, por isso, de que nos vale fingir que não existe solidão, quando nela vive o nosso coração.
Hoje escrevo, não porque seja profeta, poeta ou qualquer coisa similar, apenas porque de mim, de ti, de todos nós, me quero lembrar, quando a memória me atraiçoar.

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