É possível estar a passar por uma época de retracção no caminhar do quotidiano. Provavelmente sinto-me a andar cada vez mais devagar em direcção ao objectivo primordial do meu destino. Pergunto-me se será dos anos que o corpo tem, ou do ambiente de desencanto que paira no ar? Uma atmosfera de mistério e magia sempre foi o ar que gostei de respirar, aquele nevoeiro que abraça o corpo e faz com que os sons pareçam ocos é a envolvência onde gosto de me movimentar. No entanto parece-me que as rajadas de tormentas que circundam o meu mundo têm dissipado esse clima especial que me permite transcender o corpo e seguir a alma nas viagens mais alucinantes que possamos imaginar.
Costumava ser como os segundos, correr rápido de letra em letra, saltar de palavra em palavra, pendurar-me das frases e deixar-me cair em textos macios, mas começo a aperceber-me que tudo em redor está mais estéril, que o mundo está a mudar, o clima está diferente e talvez seja momento de parar, deixar-me ficar a ouvir apenas os pássaros cantar. Sempre que nos damos, seja em versos ou em prosas, há um pedaço de nós que parte, para nunca mais voltar, provavelmente, fiquei meio vazio, oco como o som no meio dum dia de nevoeiro.

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