Por vezes tenho vontade de irromper pela vida, como se quisesse quebrar a inveja, apagar a miséria, reprimir a própria violência. Sei que não é o caminho lutar com as armas que nos atacam. Sei que é destino suportar as cargas que a vida nos deposita nos ombros. Mas, por vezes não resisto a pegar na minha espada, desembainhá-la e cortar a direito por esta selva de gente que não sente nem o aço afiado da lâmina, quanto mais a vergonha da mentira descarada.
Outros dias porém penso, para quê, perder-me na sujidade abjecta duma sociedade putrefacta, porquê preocupar-me em mudar um mundo que sabe de antemão para onde quer ir, deixai-o cair, afinal a perpétua queda é um movimento infinito de quem anseia por chegar ao fim do abismo. Lamentavelmente tudo isto me dói, no corpo, e na alma ainda mais, e as feridas infligidas não serão saradas, e o sangue derrama-se nas angústias aqui declaradas, como guerra aberta contra um inimigo tão vasto que parece indestrutível. Às vezes apetece-me baixar os braços!