Na tentativa de conseguir um equilíbrio entre o corpo e a alma, deixo que esta última pouse por momentos dentro do seu abrigo. Esta dicotomia, entre o etéreo e o físico, leva-me a encontrar várias personagens do mesmo eu. Afinal o ser humano é uma peça de teatro, onde o encenador, coordena todas as personagens, corrige os textos e reformula os diálogos a cada instante. Nesta obra em plena evolução sou tantas vezes cenário, ou vítima da minha própria encenação. As luzes da ribalta ofuscam a percepção do público que assiste, o personagem progride sobre o palco sem conhecer o abismo onde pode, por instantes, ficar dependurado. Os silêncios permitem a inspiração, consigo perceber ao de leve o bater dos corações, palpitações que se propagam pela atmosfera deste pequeno teatro onde minha alma habita. Há espectadores indiferentes, outros tão diferentes, sentem com frequência qualquer alteração do texto, um engano do actor, uma improvisação do personagem, é nesses que me centro, é com eles que reparto o meu lamento. No acto final, desce a tristeza, suspensa por cordas invisível, pairando no ar, como que adivinhando que a cortina vai descer e o espectáculo terminar. Num choro brando solta lágrimas em pranto e o público parte, deixando um vazio imenso neste corpo.

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