Há um pedaço de chão feito de coisa nenhuma onde apoio a ponta do meu dedo, um último fôlego antes de encarar o abismo como caminho descendente que me levará de volta o inverso deste céu que sempre almejei conquistar. Cair, deixar os braços atrás das costas, a cabeça em bico de flecha e atingir a velocidade máxima de um pensamento em declínio. Já não sinto, algo se quebrou na corrente nervosa, nesta ligação cósmica que nos permite medir o tempo sem relógios, sentir o vento sem refúgios, saborear a chuva sem ter boca, algo se partiu, e o silêncio invadiu cada canto desta sala. Já não escrevo, já não falo e já não digo porque sei que serei incompreendido porque quem lê, quem escuta e quem fala. Toquei o fundo, num som surdo, absurdo, que o vácuo não propaga, que o corpo paga com a própria vida, desfaleço, e evaporo-me como éter no espaço inodoro.