Rasgo os tecidos que envolvem o corpo, percorro com as unhas gastas a pele que se arranha numa vontade seca de fazer a carne doer. Não quero estar aqui, não quero ficar neste invólucro que me sufoca, deixa as minhas asas rasgar esta carcaça que me amordaça. Grito, num espasmo de loucura, num desejo incoerente de liberdade, num lamento dorido de vontade de ser aquilo que não sou.
Não entendes, não vês que isto que olhas não é de todo aquilo que sou, que é apenas um reflexo da luz que define a sombra de um corpo morto. Olha-me de olhos fechados, para veres o que realmente emana da minha alma, o que realmente é o reflexo da minha aura, ou serás cega? Não perceberás que não é apenas aquilo que podes tocar que também podes ver? Áh mulher, porque não sentes o calor que te transmito quando em sonhos te inundo de loucuras? Porque não descartas a pele e decides de uma vez por todas ser eterna, plena, e imortal.