Na curva do tempo sou um corpo ao abandono, parte de um silêncio calado que não suporto. Perco-me em labirínticos pensamentos, pesadelos que incrementam os meus medos. Espero que a ausência parta para que o meu corpo acompanhe a minha alma. Espero que os fantasmas se dissipem e em mim, que as tormentas se desfaçam em chuva, que a vida seja lavada de toda a miséria.
Aguardo o sinal dos tempos, o momento em que virá o meu chamamento, em que Alguém recolha a minha energia, em que o corpo morra e se dissolva na Terra. Partirei ciente de que em qualquer instante fui semente, árvore e fruto, fui alimento, destroço e muro onde se ampararam os que da minha sombra necessitaram.
Espero apenas, e sinto-me em paz nesta paragem, aguardando pela minha vez de voltar a casa.