Hoje venho aqui despedir-me das letras, dizer adeus às palavras, desistir de juntá-las em textos. Há uma conjugação cósmica que me impele a organizar pequenas galáxias de frases, mas, em certos momentos, eventos catastróficos destroem a matéria, baralham as forças e consomem as energias. Nessas alturas condenso-me numa ínfima partícula que é o aglutinar de todas as letras, um pequeno átomo literário que comporta um universo de livros por escrever. Nessa contracção fecho a luz, desligo as mãos e deixo de ouvir, de sentir, apenas hiberno no escuro, por entre as páginas amontoadas.
Um dia, o ciclo renovar-se-á, uma imensa explosão acenderá as luzes de um outro universo, as letras soltar-se-ão como estrelas, as frases serão anéis em redor de planetas e os textos voarão como pássaros livres no céu azul-turquesa de um novo mundo de sonhos, nesse dia, serei a brisa que lhe afagará as asas.

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