Em
tumultuosos mares navega a caravela, carregando minh'Alma, amarrada ao
mastaréu, como se fosse meu corpo réu de sumário processo de liquidação.
Questiono a resistência da embarcação, perante tamanha fúria, onde
vagas gigantes de crista afiladas ceifam pedaços destas tábuas. Será
este invólucro capaz de enfrentar tamanho furação? Ou quebrar-se-á como
frágil casca de ovo, derramando assim a minha essência no fluido agitado
deste oceano.
Não
temo a morte, porque sei que este vestido que me cobre, pouco mais é
que um simples sudário, que se fará pó e se dissolverá nas conturbadas
águas. Temo pela Alma, que eterna, pode perder-se entre o Céu toldado de
nuvens e o borbulhar das trevas que martirizam as almas de tantos
outros náufragos. Por isso, qual Ulisses me prendo, para resistir à
tentação do salto ao vazio, esperando a ascensão nas velas desfraldadas,
como pássaro de asas ao vento.
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