Como
poderei inflectir sobre ti o meu pensamento sem tocar ao de leve na
tua essência, na tua existência. Não quero, porque não devo, ser
movimento de agregação de todas as tuas vontades e ilusões. Não
posso, porque não sou capaz, de ser em ti estrela fugaz que risca o
teu semblante como um nada que já foi e não voltará. Este
desequilíbrio envolvente que faz de mim um ser presentemente
ausente, confunde o espaço-tempo e faz da realidade uma imagem
desfocada do presente. Gostaria de ser religiosamente exacto em tudo
o que digo e faço, mas quebro esta corrente, separando elos e
construindo conexões no vazio deste hiato onde me sento. Um dia
quiçá, seja possível transplantar estas vontades líricas para o
factual quotidiano e criar da Noite para o dia uma nova ordem, para
que a seguir a cada verdade venha mais outra e tudo siga a corrente
do rio que desagua no mar.
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